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quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Carta de aviso prévio

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Informo aqui, publicamente sobre meu pedido de demissão. Espero que a antecipação dê-lhe tempo de encontrar alguém que esteja capacitado de ocupar minha vaga o mais brevemente possivel, visto que não desejo  um desfalque nesta empreitada, e sim o desenvolvimento tanto da empresa como o meu, pessoal. Acredito que minha saida do grupo seja, apesar de uma dura decisão, a mais acertada em relação aos anseios das partes.
Anuncio aqui minha lealdade ao time, que poderá contar com minha ajuda e boa vontade sempre que necessário, mas meu objetivo é ser freelance no ramo, portanto, incompativel com os valores do grupo.
Expresso minha gratidão em alta voz.
Houveram desentendimentos internos e momentos onde duvidas sobre o bom relacionamento das partes. Deixo algumas observações, como alguém que viveu do outro lado: falta na casa a habilidade de ouvir sem levar para o lado pessoal; algumas atitudes são motivadas exclusivamente pelo ego dos dirigentes, levando àqueles que estão sob o comando sentirem-se desvalorizados em suas ambições e finalmente, o ambiente torna-se por vezes estressante quando as tarefas próprias dos colaboradores são modificadas sem anterior aviso para, no lugar, desenvolverem projetos dos superiores.
O relacionamento entre as partes da empresa também poderia ser mais próximo - sugiro uma nova forma de auditoria e que se crie um setor de RH antes fazer novas contratações.  Principalmente, motivar pelos acertos é melhor do que coagir pelos erros.

Sentirei saudades, mas acredito que será um passo que ajudará no desenvolvimento de todos os envolvidos.
Reitero que apesar da "traição", saindo da empresa num momento tão delicado, o grupo terá sempre minha lealdade e sincera torcida.

Com carinho sincero.

Adolfo Bianco
Sub-gerente administrativo
Gerente de comunicação
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quarta-feira, abril 13, 2011

Faz-se sem

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Só de pensar em encontrar as pernas tremem. Graças a Deus estava errada ou não seria nada bom. Passar em frente ao lugar onde já não era mais o mesmo. Que ainda é, mas foi tão mais só seu...
Ainda bem que não é sonho ou seria uma má ideia sonhar assim. Sonhar assim sem estar acordada quer dizer que é sem querer.
Prefiro meus olhos abertos sem ver, sentindo mais do que a distancia, você.
Eu sei que a coincidência trama contra minha paciência. Vai ser, inevitável, vai ser na pior hora, da pior forma. Ideia boba, de sonhar acordada, Boa Noite pra sempre, boa sorte.

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segunda-feira, janeiro 24, 2011

do Diário de Adolfo Bianco.


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Vem de volta. Pedi. Mantenha distância mas não vai pra muito longe. Lembro que era muito novo e fumava um free no pátio do prédio comercial, das aulas de reforço de matemática. Primeira namoradinha. Escadarias. Menina aleatória. Sem amor. Paixonite de sonhar acordado. Contei pra todo mundo. Estava feliz em ter um desejo satisfeito. Não conhecia a menina, mas segurava firme e ela gostava. Puro aprendizado de desejo, puro, mas não por isso inocente. Lembrei porque é uma sensação parecida, de que não me conheço. Mero novato entre as mulheres. Você, muitas mulheres.


Menina, menina... nem assim tão bonita. vivia estranha e semi-apaixonada. perdia tempo, perdia tempos... perdia a vida sem parar por nada. dormia tarde e acordava cedo. pensava demais. tomava café e saia andando, até apagar para o dia seguinte.



Cantavam: "Não é minha menina, mas é minha inspiração. Não é rainha nem cartomante, não é pequena, também não é grande, parece grave, mas tem tons agudos, parece carne mas seu corpo é núvem."




, e em diálogos: 


"Liz, por favor, não fuja assim. Sinto muito, mas não posso te acompanhar. Controlo essa obsessão pouco menos do que o mínimo necessário, por isso não vamos fingir que você não se incomoda..."
_.
"Impossivel. Vê, já compulsivamente não acredito em você. Fica me parecendo que preciso te criar e não é isso que eu preciso."
_.
"Continua com essa historia então, mas eu duvido! Nem fico falando só de mim, de mim e mim. Eu não converso contigo, não? Pergunto de tudo que te aconteceu?"
_.
"Passa da minha frente, filhote de satanás, cobra criada, parida de/"
_.
"Se incomoda? Agora se incomoda? Por que te xinguei? Por que/"
_.
"Não, florzinha, não to gritando, não vou te bater. Você é a mais preciosa criatura pra mim... não fica com medo de mim. Prometo que não vou mais pegar no seu pé, nem/"
_. __ _.
"Faz como quiser então, você tem razão mesmo e /"
.
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"Desculpa, não quero isso não... Liz, posso te deixar em casa?"

"Nesse teu espaço, ando sobrando, fazendo falta ou a indiferença já reinava antes de eu sair de ti? Que coisa estranha, Liz, que coisa estranha, você parecia se importar, pelo menos um pouquinho, só um poquinho mais..."

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quarta-feira, outubro 20, 2010

De - Para Mauld

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Paris, 03 de Janeiro de 1925

Ao Sr e Sra Hermet,

É com grande pesar que envio ao senhor e sua família a triste notícia do falecimento do Sr. Marshon.
Essa sexta feira o corpo do Sr Jason Marshon  em seu quarto. Um vizinho ouviu um tiro e viu escorrer sob a porta,  o equivalente a meia garrafa de absinto. Bateu na porta e não ouviu resposta.
Após um momento de preocupação batendo à porta do apartamento chamamos um policial que entrou no lugar.
O Senhor Marshon morreu sentado ao lado de uma escrivaninha. Foi feita uma autópsia e o apartamento foi revirado. Aparentemente ele foi assassinado com um tiro no peito. Não foi encontrada nenhuma arma ao seu alcance, mas a porta estava fechada.
Encontramos escrito e endereçado à Senhora Mauld Hermet o seguinte transcrito:

"Mauld, 


Como vai? Os Hermet estão bem? Te tratam bem?
Responda-me: Está feliz? 
Eu, Mauld, não estou. Algo me empurra para trás. Não sinto os pés no chão. Não sinto que valha a pena sequer continuar tentando voltar para Londres. Não tem graça em lugar nenhum. Já fugi daí por não suportar o que me prendia... aqui não suporto a liberdade. Sinto que vou explodir...
Quero preencher-me o tempo todo e não exista nada para consumir que ocupe o espaço do meu corpo inteiro... "

Sentimos muitíssimo pela perda, o Sr Marshon era um homem muito correto, gentil, educado e que pagava em dias. Nunca imaginamos ter inimigos ou motivos para tanto tormento para que tirasse sua própria vida..
O original ficou com a polícia, como peça de investigação.
Escrevemos ao Sr e sua família em memória à grande estima que o Sr Marshon tinha por todos. Era um homem de poucas palavras mas costumava falar do senhor como um grande amigo ao qual tinha muito carinho e à sua esposa, a qual considerava uma irmã.

Lastimamos dar essa notícia e também esperamos uma breve visita para que os pertences do Sr Marshon voltem para Londres, já que não deixou dívidas.

Michel Poppe
Senhorio

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sábado, outubro 16, 2010

Me chamo Lobo Branco.

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Doutor,


Algo me faz mal.
Meu nome, minha idade, meu tempo, minha vida, meus quereres, meus prazeres, minha vontade, minha verdade, meus momentos, meus desalentos, meus sucessos, meus fracassos, minhas formas, minhas normas, minhas partes, meu todo, meus impérios, minhas metades, minhas paredes, meu quarto, meu espaço, minha carência, meu acalento, minha falta de talento, minhas perdas, meus ganhos, meus pedaços, minhas peças, minhas moléstias, minhas cartas, minhas falas, meus pensamentos, meus descontentamento, minhas curvas, meu peso, meu sexo, minhas parceiras, minhas costas, minha cadeira, meus dentes, meus sorrisos, minhas risadas, minhas dores, minhas rimas, meus amores.


Sabe o que é que me incomoda?
É meu cabelo ficando branco. É não poder ter sumiço. É a ruga matinal na testa. É esse corte no polegar. Saber da minha morte lenta. É minha falta de sorte. É aquela existência persistente. É minha óbvia decadência.  É meu tempo se esgotando. É a sensação que isso não passa. É o medo de ser descoberto. Medo de ser abandonado. É saber não ter futuro. Ter respeito ao passado. É não aceitar ter um dono. É essa falta de grana. A dor nas costas voltando. É não encontrar um fim. É não encontrar um meio. É não ter tido um bom começo. É não ter admitido antes. É ter que viver dividido. É uma porção de coisas na verdade. É uma coisa só simplificada. É querer culpar o outro. Sou eu.


Adolfo Bianco


ps: Preciso de um atestado de uma semana, a começar de hoje, para provar que ainda estou vivo, que apenas não consigo viver.


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quinta-feira, outubro 14, 2010

De Para.

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Leia atentamente sem expectativas.



Se eu pudesse explicar o que acontece comigo para ser tão incongruente, não te diria. Só se você me perguntar, se pedir explicação. Se tiro meu disfarce pra ti é por que não consigo não ser eu na tua frente, mas meu silêncio, esse ainda controlo. A não ser que você não queira... e eu.. eu não queria o teu, mas o teu silêncio, eu nunca controlei. Detesto quando você se faz de muda. Mais ainda, detesto quando você fala de amor. Nosso silêncio é bom quando quebrado em gemidos. Quando me calas entre as tuas pernas e te arranco o ar frouxo dos pulmões fracos.


Pra se machucar,  me procure.

Adolfo Bianco  

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sexta-feira, outubro 01, 2010

De - Para - não enviada

Dear Mauld,

I wrote you a song.
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After all we've been trought
Good memories are not aloud,
Gotta pay this eternal sue
Paying to avoid you around
You once were so smart
You trusting my "not to worry"
You once had some decency
But just never show me
You modified your body
Now your body and your soul
Are like mine
And you're creepiest than me
But at least I can see
This is not how I imagined...
Hard it to handle
The sword and candle
At the same time I give you a hug.

Even if the whole world tell not to
I still persist I still being a pain-in-the..

I can not talk
but
Talk is just talk
and
I'm not talking to you
so
I think you might not get it
'cause
You probably regret knowing me...
so
When you see me hiding
Don't think it's because of you.
See,
I can't talk to you,
But
I can sing.
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segunda-feira, setembro 27, 2010

De: Para. -

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3 meses depois do adeus, de muito mais longe do que gostaria, 1925.

Querida Mauld,

Tua última carta me manteve fora de contato pelos últimos meses, mas acredito que tenha sido o maior bem que me fizeste em muitos anos. Aprendi a viver sem te xingar ou adorar. Diminuí meus melindres comigo mesmo. Virar homem é parir-se a si mesmo, quanto maior a distância entre o jovem e o maduro, maior a dor.
Bem que eu queria, mas não sei o que tem te acontecido. Não sei por onde andam teus sonhos, teus pensamentos, tua vida. Sei onde ando, onde vou e o que penso, mas te contar só, não basta. Preciso que me responda, como amiga, verdadeira.
Não sei se tens amor em casa ou fora dela, se te aventuras como antes ou se descobriu alguém que te domasse, não apenas suprisse tua falta de família.
Mauld, querida, nem sei o que pensas de mim ultimamente, sei que achei outro dia uma das mais antigas falas já escritas por nós dois. Juntos, o que é mais estranho. Pouco criamos juntos, e de pouco impacto certamente, mas Mauld, a tristeza na França é tremenda, tudo fica mais emotivo num país onde se vende amor e se vive solidão.
Esse trechinho que te envio era uma conversa boba entre dois amantes, num dia em que se encontravam por acaso após uma noite confusa. Mais um romance que tentamos escrever, parecendo uma comédia que não acabou pela falta de um fim tolerante aos que detestam amores natimortos.
Se bem me lembro é Fevereiro, Londres, Sutter e Cindy:


Cindy: Estou indo dar uma volta no mercado comprar um presente pra um primo meu, depois vou à Igreja... depois acho que vou passar pelo tio Ben, tento a dias conversar com Louise... tu vais por lá mais tarde?
Suter.: Hm, acho que não. Tenho aula até 9:30. Talvez, não sei. Deveria ir? 
Cindy: Eu gostaria.
Suter: Atendido.
Pausa 
Suter: Estive com a Emma ontem. Dormi na casa dela.  Cheguei há pouco. - Pausa, busca reação -Te vi duas vezes.
Cindy: Onde? - Sem reação
Suter: Quando estava dormindo, meio que dormindo, mas não dormindo. Ela levantou pra fechar a porta, pensei que era você. Me assustei porque quase disse teu nome. - Insolente
Cindy: Não pareço com ela. - Ciúmes.
Sutter: Não é parecer, foi a sensação.
Cindy: Isso é ruim, sou uma sensação de ex-problemática?
Sutter: Oh! Deus! Você não entende!
Cindy: Estou tentando!
Sutter: Eu te vi porque eu tava meio dormindo e tinha uma pessoa no quarto e eu pensei que tava em casa e provavelmente vc estava no meu inconsciente.
(Lembra Mauld que soubemos do Dr. Freud no ano que escrevemos essa peça?)
Cindy: Oh.. oh.. 
Sutter: Daí quando ela andou pelo quarto pensei que era você. Vi o cabelo amarrado e quase disse teu nome, entendeu? 
Cindy: Entendi...
Sutter: Tá bem, você estraga qualquer romantismo.
Cindy: Pelo menos agora estou achando não-ruim.

Mauld, quero saber de você.
Não tem sentido nenhum viver sozinho, se sei de cor o que já vivo. A melhor maneira é viver por dois. Com você posso ser dois. Me aceite de volta, sem rancores, sem choramingos meus.
Prometo que de poeta e louco pouco se verão.

Torço para que estejas bem, com amor, com saúde e com objetivos. Mas no meu coração, meu desejo, era que tua solidão se encerrasse com o fim da minha.

Um dia podemos terminar de contar o resto dessa história um para o outro?
Termine-mo-la juntos.

De seu triste, porém vivo,

J. Marshon

ps: Agora eu sei. Desde o dia que voltei uma milha e meia na chuva para te emprestar a mesma capa com que acompanhei Agnes até em casa, você já sabia que assinara com sangue no teu livro de almas. Aqui me tens de regresso, muito mais de uma milha e meia de distancia, mas tentando te alcançar antes do bonde para te emprestar uma capa que sequer pediste.

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Esperar sentado vendo outras vidas passarem
Esperar angustiado a volta da atividade
Esperar que tudo seja reiniciado
Esperar que o novo e resolvido venha do que é morto e mal acabado
Isso é le.ni.ên.ci:a com o des(a)tino.
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terça-feira, junho 01, 2010

Mauld em resposta.

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29 de Setembro, 1925

Jason,

Querido, não sou boa nas palavras como você, então vou tentar ser clara e direta: não me escreva mais. Pare de tentar achar solução através de um resposta minha, eu não tenho como te ajudar. Estamos nos mudando, Jason, não morarei mais em Londres em uma semana ou duas.
Estou adiando te escrever a tempos e Hermet bem que insiste, mas fiquei com medo de não saber o que dizer.
Veja, os pais de Hermet estão muito doentes e Charise não consegue cuidar deles sozinha. Nunca te falei dela não é? Minha cunhada, muito boa pessoa, infelizmente já é casada, acho que você iria gostar dela. De qualquer modo, os negócios não vão bem e Peter, o marido de Charise, também é ferreiro, então vamos para Stratford, ajudá-los. Assim firacá Peter e James na Ferraria e eu e Charise cuidando dos Hermet idosos. Eu não tenho o endereço ainda, mas penso que mando um telegrama para te avisar assim que nos instalarmos na cidade.
Por favor, não escreva para mim dessa triste forma novamente, você não sabe o quanto me dói ler suas dores e não ter como ajuda-lo.
Penso que muitas vezes você faz essas coisas só para ter o que falar que fez, preocupe-se com algo útil e construtivo vez ou outra, eu não posso estar do seu lado puxando suas orelhas toda vez que fizer algo errado e nem quero saber o quanto você está estragando sua vida e me contando a punho próprio em letra caligráfica
Não, não tem nada a ver com Hermet, ele, pelo contrário, parece te entender e sinto que fica penalizado quando sabe de suas desventuras, eu por outro lado, mantenho minha calma e procuro achar uma solução para os teus problemas. Infelizmente, Jason, eu tenho meus próprios problemas para lidar. Suas mulheres, suas noites ébrias, suas paixões podem ter sido parte da minha coleção de cuidados mas hoje tenho que pensar em mim e na minha família. Está na hora de você também buscar um destino construtivo para você.
Me perdoe, meu querido, se sou dura com as palavras, mas enquanto estava perto de você ainda podia fazer algo, agora, ou você faz algo por sí mesmo ou eu prefiro não saber.
Volte para Londres, volte para a Inglaterra como prometeu. Paris não te faz bem, a França não é lugar para pessoas como você. Quando voltar, estaremos de braços abertos para te receber em nossa casa.

Um grande abraço com muito carinho,

Mauld Beatrice Hermet

ps: Hermet está bravo comigo por causa dessa carta, mas espero que você a veja como um ato de amor não de abandono.
ps2: Em Stratford terei que chamar Hermet de James, acho que vou demorar a me acostumar com isso.

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quinta-feira, abril 15, 2010

De Marshon Para Mauld - XII

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Cadeira e Mesa novas, Paris, 30 de Agosto de 1925

Querida Mauld

A janela está aberta, mas e daí? Não passa um vento. Sinto um calor abafado e ruim, mas vem de dentro. Faltei comigo mesmo, aparentemente luto contra mim.
Te falei dela, não falei? Amor novo e sem responsabilidade alguma. Uma jóia rara pelas qualidades invisíveis. Oh, Mauld Mauld Mauld... falhei novamente, como homem, como ator da minha vida só atuo, mas penso que deveria dirigi-la. Falhei em algo que não sei o que foi.
Será que sou um maricas dominador?
Ela me deixou Mauld, e já me apareceu com outro. Pintor e poeta, assim como eu, mas não sei se ele a amará metade do que eu amei, já, mesmo sem dever.
Amor na nossa idade é sacrifício.
Aquele olhar tão denso e frio não toca meu mundo a dias e ainda assim, me lembro do tremor que senti quando apertei seu corpo contra o meu naquela calçada escura entre os bares da madrugada.
Sentir seus lábios secos e miúdos é como respirar. Sem querer os sinto. Sem querer me lembro. Sem querer suspiro. Sem querer a vejo e evito, atravesso a rua, viro o rosto, finjo que não ví, mas ela ainda assim - veja que ousada, mandou-me um abraço pelo Pierre, dizendo lembrar-se sempre de mim ao passar na tabacaria.
Puta. Eu avisei, se estivesses aqui, terias me avisado.
Pronto. Vou procurar uma que me saia mais barato, pois o coração que ela matou não tem mais onde comprar.
Vou procurar um emprego, quero voltar para Londres. Paris me fez tão mal quanto a casa dos meus pais. Vou voltar para você e seu ferreiro dentuço. Serei mais feliz servo da Rainha que amante de uma puta.
Sim, misturei bebidas o suficiente para escrever essas coisas e ainda ter coragem de enviar, mas perceba, querida, quando um homem como eu ama, sofre. Dedico-me totalmente a uma mulher de cada vez, quando a mulher acha um homem como eu, deveria agradecer aos céus, mas ao invés disso, ela me acha um bobo que ainda quis, de alguma maneira ver nela a linda flor que ela não vê. Percebe? Depois do que escrevi eu também me largaria.
Agora, querida, por favor, conte-me de você.

J.Marshon

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perdemos tempo pensando.

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sexta-feira, março 12, 2010

De Erika Para Geovanna - XI

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Augsburg, 07 de Julho 1780


Vannie,

Não me aguentei, já te escrevo novamente. Quanta falta me faz te-la conosco em nossa casa, em minha vida, tão perto. Desde o começo do verão o Sr. Hugnstein pergunta de você. Sentiria até um certo ciume, se não soubesse que seus interesses são mais nos vestidos que em quem os veste.
Você o conheceu? Não me lembro se já, mas falo sempre de ti e ele sempre pergunta.
Uma vez me disse que não havia a conhecido pessoalmente, mas tenho essa impressão que já, tira-me esta duvida, sim?
Raposinha, apenas dois dias depois que voltastes para casa Hans descobriu que podemos entrar no
Komödienstadel durante os ensaios, sem sermos notados. Só havia ido lá na apresentação do Mestre Mozart, portanto, imaginas que estou encantada em ver peças e ouvir músicas, mesmo que ainda sendo ensaiadas. E sempre dizem que peralta é você! Hans tem me saído um ilusionista com tantos truques nas mangas!
Por falar nisso, papai levou-nos ao Padre Dominic Schram
, procurar uma indicação de outro tutor mais rígido. Papai não se estranha com estrageiros, mas não gosta do pobre Sr. Hugnstein por ser um maricas. Consegues compreender isso, Vannie?
Oh! Noticias ruins chegaram para o papai. O filho soldado do Gordo Inglês foi para a América em outra Guerra! Imagine, meu pai o conhece desde garoto e esta preocupado. O novo continente quer independência da coroa-real e isso torna tudo muito violento.
Raposa, Augsburg está triste sem você. Eu estou triste sem você. Até a slava Anja está mais triste ultimamente. O Sacro Império Romano da Nação Germânica está inteiro mais triste.
Sinto sua falta, minha querida, sinto muito a sua falta. Mande-me boas novas.
Não ia fazer isso, mas ele está insistindo: Peppito também sente sua falta. Acho que ele sabe que te escrevo, suspirando como estou.
Você viu que Petra adorou o Peppito, mas sabe, ele sente que é meu e me prefere como companhia.
Parar de escrever e como dar um adeus.
Mande lembranças a todos. Cuidado com os Bergg.

Sua,

Erika.

ps: eu amo você.

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quinta-feira, março 04, 2010

De Marshon Para Mauld X

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Quarto escuro, 10 de Agosto 1925

Mauld,

Que seria de mim, se não tivese minha Mauld para conversar?
Oh, sinta isso: Que radiante novo dia! Dia de sol em Paris, creio que até Londres, hoje se fingiu ensolarada para não estragar tudo.
Nem parece que sinto sua falta ou que seja importante saber se estás bem. Nem parece, pois sorrio, inflexivelmente sobre o restos que me sustentam.
Tende em mente que mudanças são desafios, que os fracos fogem, que estou fugindo novamente. Mauld, cansei minha mente com amigos, não consigo produzir.
Deito-me no peitoril, escondido, para ver se ela passa pela rua. No alto dessa janela, desse quarto virulento, os humores da capital concentrando-me em meu nariz, com sono, no frio, no calor, cansado, como quer que seja: vigio. Como que guardando a passagem enquanto passa.
Ridículo que sou, Mauld. Ridículo, pois na minha idade não se alimentam cobras, dívidas ou amores. Creio que fiquei emolecido com a presença do teu ferreiro.
Outro dia mesmo me peguei pensando no perfume dos cabelos da Tiffane, e me dei conta que ela apresenta uma sutileza natural incomum para uma Francesa.
Vou acalentar ainda essa ideia até que se desmanche pelos meu braços.

Mauld, gostaria de trocar de lugar contigo, so para saber a sensação.


J. Marshon
ps: sinto-me ridículo.

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sexta-feira, fevereiro 19, 2010

De Marshon Para Mauld - IX

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Cama limpa em Paris, 02 de Agosto de 1925

Oh, Mauld

Estou doente. Comecei dramático, não te preocupes, estarei bem em breve, é só uma gastrite.
Soube que em setembro haverá um encontro espiritual, desses que tanto gostas. Avise o Hermert se ele também gostar.
Oh, querida, sinto saudades dos cuidados que me tinhas.
Acha que nunca percebi que mesmo tentando fazer tudo igual para todos, tua atenção sempre foi grande comigo? Pequena malabarista de corda, nunca entendi tua atenção, agora me dói a barriga e a falta da minha melhor amiga, curiosamente pelo resultado da bebida e não pelo momento de bebe-la!
Me criaste muito mal.
Mas o motivo da escrita é outro.
Ando pensando muito ma'M, demais para mim. Cada passo que dou penso se deveria tê-lo dado. Ando duvidando da minha arte, duvidando da minha capacidade de pintar e de escrever. Ando duvidando até dos meus sonhos.
O Mal do Século me pegou Mauld? Estou histérico como uma mulher? Talvez por causa dessa gastrite, eu não possa beber e tudo fique mais difícil. Mas acho que, de algum modo, a gastrite veio por causa disso tudo. Como se eu estivesse rejeitando até mesmo minha última felicidade.
Mauld, Mauld, Mauld. Pedro foi embora. Ivan está em Lion e eu estou na companhia da tristeza absoluta.
Escrevo sem chegar ao ponto onde quero chegar, mas porque está tudo tão perdido dentro de mim que não acredito que um dia terei novamente forças para me levantar.
Não te preocupes, fica bem, te informarei da data do encontro.
As vezes acho Mauld, que preciso de uma mulher apenas, não de tantas, sempre achei que para isso existiam as mães e as Maulds.
Mande-me coragem, por favor. Acho que sei o que está acontecendo.

J. Marshon

ps: não me critiques pela carta maricas.
ps²: acho que estou apaixonado se isso explica algo para você.

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De Geovanna Para Erika - VIII

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Munich, 09 de Março de 1780


Prima Kika,
Amanhã arrumaremos nossas malas para partir.

Espero chegar antes deste bilhete.

Geovanna

ps, acompanhada de mamãe.

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domingo, dezembro 27, 2009

De Marshon Para Mauld - VII

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De uma mesinha num bistrô, 14 de Julho de 1925

Minha Mauld,

A gente não se via a muito tempo, mas agora que te vi senti algo que preciso te dizer:
Eu fui apaixonado por ti e estou vendo que vou ser pra sempre. Te amo muito, mas muito mesmo e acho que é do tipo de sentimento que parece durar toda a vida.
Não se preocupe, querida, nem se preocupe comigo ou com qualquer ciúme que isso possa causar contra nós, não é sobre isso não.
Não é de paixão de vontade de possuir e te agarrar, não, não! Não te quero como companhia de construção das etapas da minha vida, nem de sexo, nem de carinhos. O que me cativa é tua presença inconstante e agradavel e divertida e um pouco mágica, essa combinação é que me faz sentir assim por tí.
É de gostar de ti como tu és. Gostar de estar perto, gostar da companhia.
É um amor que não passa e que não precisa de continuidade física.
É o que me faz teu amigo independente de retorno, por que é pela mera existência.
É amor que perde a força se chamado de amizade.
Te amo Mauld, talvez como poucas pessoas te amarão, amaram ou amam. Como um amor de familia, só que mais feliz e intenso.
Qualdo chegar em Londres novamente essa carta será tua recepção.
Obrigado pela visita, não sabes o bem que me fizeste.

Seu eterno amigo

J. Marshon.

ps: Agradeça a Hermet, por mim, mostre a ele minhas palavras: "Cuide bem dela como ela cuida de mim e obrigado pela viagem, darei uma retribuição a isso. Ame-a como ela a tí.".

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sexta-feira, dezembro 18, 2009

De Marshon Para Mauld - VI

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Numa cadeira sobre a ponte do Sena, 14 de Junho de 1925

Doce Mauld,

Está frio mas estou confortável. Estou dividindo um quarto que não alaga e sem percevejos, ainda em Sevran, com Ivan e Pedro.
Pedro é um brasileiro que domina as artes do amor. Exótico. Se fosse de minha índole essa espécie de prazer provavelmente o teria testado, mas deixo-o a vontade para conseguir seu ganha-pão sem precisar tirar prova que sabe o que faz. Acredito nos pagamentos salvadores que recebe.
Quanto a mim, ando vendendo bem e já até mesmo publiquei três poesias em jornais. Não saí ainda do papel de esmoléu, mas pude comprar material e pintar novamente. Creio conseguir juntar dinheiro até Julho para comprar novas roupas. Estou em frangalhos!
Surpresa: batemos um retrato ao lado do arco, te enviarei quando estiver pronto.
Oh, querida, pelo que me dissestes, caracteriso o que tu sentes de amor.
Amor verdadeiro e puro, apaixonado e crescente, desses que confundem o objeto de amor com de adoração e te levam a querer passar o resto da vida sob o julgo de um sentimento.
Acredite: até um pouco mais que a idade que te encontras, um amor assim é um crime contra tua juventude. Depois dessa idade, um amor assim é um castigo contra o que te sobra dela.
Não ame desse jeito, não derreta teu coração com ilusões de felicidade e companheirismo. O mundo é cão. Vivemos em tempos violentos que podem estourar em bombas nossos tetos por menos que a honra de um estadista.
Volta teus olhos a mesma ,Mauld, e saia desse ciclo vicioso que te encontras, salva essa pobre alma que também está envenenada de . O único amor que devemos cultivar é o de amigos.
Existe o companheirismo, existe a felicidade, existe o sexo, existe a independência.
Salva tua vida Mauld, e a desse coitado, Hermet, o ferreiro.
Será ele também analfabeto com filhos igualmente imundos de ferroaria e porões de teatros?
Tua vida não será feliz sem ele? Sem sofrer? Sem apanhar de mãos bêbadas, ásperas e pesadas quando chegar a noite e te encontrar dormindo? Chega! Não ao amor! Não ao amor!
Venha comigo para Paris, te levarei aos cabarés, passearás comigo entre as putas e te convidarão para ser uma delas. Terás todos os homens aos teus pés e nunca precisarás de um ferreiro para te fazer sentir importante.
Responde-me Mauld, com rapidez e de punho próprio. É momento de privacidade, então não temas se escreves miúdo e lento, quero que tu me responda. Queres vir para cá?
Se não quiserdes vir, saberei que é caso perdido. Alma penada em vida, mas desejar-te-ei toda sorte com o ferreiro.
Mande-me notícias de todos, mande abraços e beijos. Diga a todos que estou bem e que os vinhos daqui nunca me trarão amigos como a água daí me trouxeram.
Amo-os todos. Amo-te mais que a todos.

Já aguardo tua vinda.
J Marshon

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quarta-feira, dezembro 16, 2009

De Marshon Para Mauld - V

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Quarto alagado em Paris, 20 de Março de 1925

Mauld, sua analfabeta,

Pensei ter dito para Christine ler as cartas para ti, mas pediste a Vermond! Conheço a letra e a preguica desse canalha. Tua carta de três linhas só pode ter sido escrita por ele. - Canalha! Fanfarrão! Sinto sua falta também, companheiro - Ao ler agora, certamente está imitando minha voz. Odeio as imitações desse atorzinho de merda.
O que está feito está feito. Vamos ao que interessa:
Todas as pinturas foram vendidas, Mauld! Todas! Mas não consegui guardar um tostão sequer. Não fiquei rico, mas fiquei bêbado como nunca com as putas mais lindas que já ví!
Acordei com dores de cabeça e os pés molhados. Uma chuva esquisita caiu durante toda a noite e alagou essa espelunca pestilenta. Certamente existe desde os tempos da Peste Negra e os percevejos são a milésima geração dos dizimadores de viajantes que passaram por aqui. Deveria ter procurado um lugar melhor como disse na outra carta, mas não consegui.
Agora, sem dinheiro suficiente para voltar, resolvi virar poeta. Gasta-se menos nos materiais e produz-se mais quando se bebe, diferente dos quadros. Paga-se menos, certamente, mas posso vender em grandes quantidades.
Aqui vai um versinho que fiz ainda hoje:

Tira tua boca da minha boca
E daixa-me beijar teus grandes lábios
Gosto de inverter os teus conceitos
Te deixando de costas e de quatro

Sei que não é exatemente teu estilo, mas fará sucesso.
Vou procurar uma água para beber, estou com muita dor de cabeça.
Tentes pedir a Christine para escrever tua resposta, Vermond resumirá tudo novamente em duas linhas, em palavrões.

De seu amigo poeta,
J Marshon

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sexta-feira, dezembro 11, 2009

De Erika Para Geovanna - IV

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Augsburg, 05 de Março 1780

Geovanna,

Os dias já nascem quentes e você ainda não veio. Começo a acreditar que terei de ir buscá-la eu mesma. Demorei até mesmo a responder sua carta, pois acreditei que chegaria a minha casa antes da carta chegar à tua. Mas claro que foi uma bobagem, pois ainda não estamos em tempo de tomar frescas no jardim.
Fui ao concerto do mestre Mozart! Que espetáculo sonoro! Chorei e rí e apertei-lhe a mão ao final. Creio que ele tenha me olhado de modo que tu irias querer arrebentar-lhe os dedos. Não te preocupes, papai foi comigo, claro.
Sobre tua carta, retiro o que disse sobre meu nascimento e acredito que se teu amor depende de mim eu sou então o meu maior presente.
Dos Berggs, lembro-me vagamente de Hutty, acho que não devias trocar tapas e pontapés com esses brutos, apesar de saber o quão forte são teus golpes. Teu pai sempre reclama que não te portas como uma dama e receio que isso crie desconfianças sobre nossa relação.
Mamãe nada me confirma sobre tua chegada, mas disse que é certamente em breve. Vamos! Adiante-se, use seus poderes como me prometeu. Aquece o Sol e acelere as árvores! Trás de volta os passarinhos do calor, não aguento de ansiedade.
Apostaria meus cavalos como ainda não vieste porque tens medo de vir só. Frouxa! Não tem medo de brigar com moleques mas tem medo de uma estradinha molhada! Já te digo então quem deve ser chamada de Sua Alteza... não me chames assim, sabes muito bem que não gosto dessas zombarias.
Anna, já sei! Diz ao tio que quero meu gato persa antes que fique velho e morra! Ou antes que eu case.
Sei que para tí isso não te oprime o coração. Cacilia está com vinte anos e titio sequer toca no assunto. És criada com muita liberdade, uma raposa. Em minha casa não sei o quão modernos são os planos de papai, mas creio que ele pretenda crescer as criações e para isso, bem, você sabe.
Das possibilidades que conheço a menos pior seria o filho do gordo inglês. Ele voltou de Senegal ano passado, quando perderam para a França e já está de partida para o Sul da África! Seria bastante cômodo um marido que nunca está. Só temo ter que me mudar para a Grã-Bretanha. Isso eu não quero, mas creio que mamãe também não permitiria.
Sei que não concordas que eu me deixe casar, mas em algum momento isso terá de acontecer ou haverá desgraça para minha mãe. Petra e Austine são tão pequeninas ainda... sim, e estão bem. O tutor de Francês foi obrigado a dar uns piparotes em Austine. Austine, a astuta. Ela cantava uma canção francesa cheia de ideias revolucionárias que, aposto, foi Anja que ensinou. Ela fala francês e não diz para ninguém.
Não dei-lhe o abraço que mandou, cobras não tem braços e aquela austríaca é uma cobrinha sonsa e cheia de veneno. Só você mesmo para gostar tanto dela. Acho que essa salamandra desconfia de nós duas, mas como gosta de ti nada diz.
Por sinal, a velha bruxa veio me felicitar por não ter nascido 5 anos antes, ou teria de estar amarrada em um corset francês sem fôlego sequer para suspirar.
Falando nisso, traga teus vestidos de festa, quero vê-los. Ficas tão linda de vestidos, deverias usá-los mais! Sei que também preferes quando os visto. Te esperarei com um novíssimo, azul-marinho, de tecido francês, vais gostar, leve, moderno e segura-se armado sem esqueleto.
Estou aprendendo novas musicas no piano, mostrar-te-ei quando estiveres aqui.
Mande-me resposta com a data certa em que virá! Não aguento essa sua lentidão!
Principalmente porque sei que é medo de vir só e isso é tudo que não se espera de você. Seja a Valkíria destemida, que tanto interpretas e pare de bancar a judia pestilenta.
Meu coração de tanto desejo borbulha e tanto borbulha que confunde a angústia da tua ausência com raiva fervorosa.

Salva-me desse sofrimento, raposinha e venha logo.

sua Erika

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De Marshon Para Mauld - III

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Dum quarto alugado, 12 de Março de 1925

Minha insubstituível Mauld,

Mal cheguei e já tenho notícias. Consegui vender quatro das pinturas que trouxe e aluguei um pequeno quarto em Sevran. Foi rápido, pensei que teria que pedir abrigo no Ivan. O lugar é escuro, úmido e creio estar infestado de percevejos, mas amanhã procuro algo melhor.
Vou tomar uma dose enquanto penso em algo interessante; para não mandar só um bilhete.
Pensei em algo que acho que nunca te disse sobre sexo:
Acho uma das melhores coisas da vida. E isso é tão forte que as vezes não intendo não gostarem. É fisico. É como comer. Comer é físico e te dá satisfação física completa quando você come uma comida realmente deliciosa. É uma satisfacão que todo mundo admite: "comer é das melhores coisas da vida". É como sentir um perfume delicioso, hipnotizante, desses que você se entrega para farejar como um animal, encantado. É físico. Seja um perfume exótico ou um cheiro de comida; um único sentido encontra-se totalmente em estado de alerta e isso causa prazer imenso ao espalhar-se pelo sistema corpóreo. Como uma música que vai além dos ouvidos e entra pela corpo, que te movimenta como por cordas místicas invisíveis. Um som que te movimenta por ele mesmo, que a mente desliga todos os outros sentidos porque não são mais que ruidos para o momento em que precisa se focar somente nesse som. É físico. É delicioso. É quase ideológico! Uma ideologia do cérebro: Siga o som. Você entra em transe. É como ver o belo e viajar em sua harmonia ou na deliciosa falta dela. Quando próximos ao belo absoluto apenas a visão se ativa e se foca no que a encanta assumindo o controle do corpo. As imagens ficam nítidas, seja as que entram pelos olhos ou as que se formam no mundo de construções visuais internas. Tudo é silêncio e você é apenas visão. É físico. É o que procuro causar. É como um urro, um grito de dor ou choro. Como um gemido profundo. É expulsão de força. É aliviante. É físico como todos os outros focos do corpo para criar prazer. É assim tão físico o prazer do sexo. Assim como a comida deliciosa tem seu contexto de feitura e ato alimentício, o sexo tem seu contexto no 'com quem', mas não por isso o foco principal deixa de ser físico e, por isso, pessoal e intransferível.
Como no perfume, no som, no sabor, no grito, existe o momento do clímax, de total foco e desconexão. Assim no sexo o clímax deve ser em várias doses, nas várias etapas do desenvolvimento do ato. Nos toques. O sexo é o clímax do tato. O corpo inteiro vira tato em várias ondas de sensações únicas e os corpos, não pensantes, trocando informações puramente táteis que se harmonizam em movimentos, naturalmente, simbioticamente sem esforço, porque não poderia ser diferente. Como o corpo e o perfume, o corpo e a música, o corpo e o sabor, o corpo e o grito. Quando ultrapassa o limite do órgão sensorial e a percepção é corpo, esse é o clímax. No sexo somos o tato-vivo. Uma sensação-viva. Sexo é no corpo todo. Sexo é físico e maravilhoso. É conjunto e é solo. Paladar, olfato, audição,visão, voz e Tato.
Creio que agora alonguei demais a carta. Mande notícias da trupe. Espero voltar rico de Paris.

Deverias estar aqui para conhecermos o Moulin Rouge,
Seu melhor amigo pintor

J. Marshon

PS: Não fiz aquele pedido que me pediu porque não atirei tua moeda na fonte mágica. Precisei comprar cigarros e não trouxe trocados comigo. Se funcionar para ti, atiro moeda minha quando trocar o dinheiro.

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