quarta-feira, junho 30, 2010

Pai,

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Eu sabia que por muito pouco ia deixar de perder a cabeça
e que com pouco menos ia ter contra mim uma força superior me forçando a ser maior que um azar qualquer.

Pela sobre de consciencia que te resta,

Afasta de mim esse calice.

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segunda-feira, junho 21, 2010

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Oi.

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Tia...

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Engraçado como em pouco tempo a sensação da vida muda tanto. Não faz muito tempo eu vivia outro sentimento.
Sinto certa falta dos tempo que sentava numa calçada bebendo vinho e conversando. Sem se preocupar com a falta de preocupação no amanhã. Sem pensar em nada a não ser no que me fazia rir.
Era bom. Era como ser um bicho, uma planta, uma ser vivo que só viver é o que interessa.
Ah... os anos vindo. Coisas que se somam: 6 copas, 6 olimpíadas, 2 décadas, 5 gerações, morte do Michael Jackson, quando eu nasci TV preto e branco era comum - hoje tem TV 3D, ô caralho, não me conformo, isso é muito tecnológico!!!! O telefone da minha vó tinha cadeado pra não discar sem autorização, cantor criança cantava coisa de criança... Ai que doideira...
Não poder sentar na calçada bebendo vinho tocando violão, criando música sobre quem passava. Rindo e inventando piada besta sobre os outros... isso em sí não me faz falta. Não quero igualzinho, quero só um pouco da sensação de volta.
Isso de dar aula pra criança tem a vantagem de viver essa sensação deles. "Tia, a gente raspou as pernas". Eu ri. As tietagens dos ídolos é igual, as brincadeiras não mudaram muito, os dilemas também não... só a quantidade de informações e a velocidade com que eles tem que lidar é que mudou.

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entre outras coisas que sinto falta é a das novidades constantes.
outra coisa que sinto falta é que eu comia mais e emagrecia mais rápido.
tem outras coisas que sinto falta, mas isso é segredo

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quinta-feira, junho 17, 2010

Carona?

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Sentada, ela espera sozinha um ônibus improvavel passar - mesmo que cheio.
Já está acotumada à espera, não se acostuma é ao contato físico involuntário.
Já passa da hora de passar, mas sabe que passa. Geralmente passa a noite toda e não tem problema algum em esperar. Já está acostumada a esperar.
Não muito longe, ela dorme. Não espera por nada nem ninguém, já está em seu destino final.
Não está acostumada a esperar. Nem liga para a espera silenciosa, acalentada e dócil. Não tem como saber se não for dividida.
Quem espera tem o poder do pedido. Mas prefere ser só, não vê afinal de nenhum lado companhia melhor.

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quarta-feira, junho 16, 2010

si si si

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Estica-se através da madrugada
Percorre silenciosa os caminhos estreitos
As vielas
Pobrecitas de las mariquitas
Que no tienem una moedita
Pra comprar a canja do dia seguinte

Colhem estrelas

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sábado, junho 12, 2010

Co-autoria

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"A primeira moeda do meu salário.
 A primeira moeda do meu suor.

 Ploc! No chão do Motel."

AMR e KMM

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quarta-feira, junho 02, 2010

Suzana,

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é você?

Não passe assim por mim fingindo que não me vê.
Suzana, Suzana! é você?

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terça-feira, junho 01, 2010

Mauld em resposta.

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29 de Setembro, 1925

Jason,

Querido, não sou boa nas palavras como você, então vou tentar ser clara e direta: não me escreva mais. Pare de tentar achar solução através de um resposta minha, eu não tenho como te ajudar. Estamos nos mudando, Jason, não morarei mais em Londres em uma semana ou duas.
Estou adiando te escrever a tempos e Hermet bem que insiste, mas fiquei com medo de não saber o que dizer.
Veja, os pais de Hermet estão muito doentes e Charise não consegue cuidar deles sozinha. Nunca te falei dela não é? Minha cunhada, muito boa pessoa, infelizmente já é casada, acho que você iria gostar dela. De qualquer modo, os negócios não vão bem e Peter, o marido de Charise, também é ferreiro, então vamos para Stratford, ajudá-los. Assim firacá Peter e James na Ferraria e eu e Charise cuidando dos Hermet idosos. Eu não tenho o endereço ainda, mas penso que mando um telegrama para te avisar assim que nos instalarmos na cidade.
Por favor, não escreva para mim dessa triste forma novamente, você não sabe o quanto me dói ler suas dores e não ter como ajuda-lo.
Penso que muitas vezes você faz essas coisas só para ter o que falar que fez, preocupe-se com algo útil e construtivo vez ou outra, eu não posso estar do seu lado puxando suas orelhas toda vez que fizer algo errado e nem quero saber o quanto você está estragando sua vida e me contando a punho próprio em letra caligráfica
Não, não tem nada a ver com Hermet, ele, pelo contrário, parece te entender e sinto que fica penalizado quando sabe de suas desventuras, eu por outro lado, mantenho minha calma e procuro achar uma solução para os teus problemas. Infelizmente, Jason, eu tenho meus próprios problemas para lidar. Suas mulheres, suas noites ébrias, suas paixões podem ter sido parte da minha coleção de cuidados mas hoje tenho que pensar em mim e na minha família. Está na hora de você também buscar um destino construtivo para você.
Me perdoe, meu querido, se sou dura com as palavras, mas enquanto estava perto de você ainda podia fazer algo, agora, ou você faz algo por sí mesmo ou eu prefiro não saber.
Volte para Londres, volte para a Inglaterra como prometeu. Paris não te faz bem, a França não é lugar para pessoas como você. Quando voltar, estaremos de braços abertos para te receber em nossa casa.

Um grande abraço com muito carinho,

Mauld Beatrice Hermet

ps: Hermet está bravo comigo por causa dessa carta, mas espero que você a veja como um ato de amor não de abandono.
ps2: Em Stratford terei que chamar Hermet de James, acho que vou demorar a me acostumar com isso.

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10... 9...

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Como se não bastassem as tosses, abateu-lhe uma com dose extra de intolerância.
Uma após a outra, as batidas de dentro se cruzavam e se atropelavam. Fúria vermelha.
Vontade de gritar, mas deve poupar a voz.
Sente uma onda atravessar o externo em direção ao primeiro sinal de proximidade.

Corte reluzente entre um e outro dente. Suzana, é você?

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