segunda-feira, março 24, 2008

Voltando pelo Terminal

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Resolveu sair da muchila e encarar a paisagem.
Repetiu para sí mesma a descoberta que fizera quando saiu de seu interior e olhou as pessoas na rua - as pessoas são muito pensativas.
Predominava pelas calçadas - em carros, nas bicicletas, nas paradas de onibus e nos seus interiores - o Olhar-distante em semblantes variados, segundo sua hipótese, demonstrando por expressões e posturas inconscientes os seus interiores. Humanos curvados, eretos, protegidos por bolsas e guarda-chuvas, empertigados estufados, sem camisa, cobertos, escondidos pelos cabelos, cabelos presos, humanos de diferentes formatos e cores.
Aqueles próprios corpos demonstram quem são seus donos.
Ora, afinal a postura também modifica o corpo, assim como o complexo-vida influencia diretamente em quem somos nós por dentro e por fora, e percebeu que era possivel ler a mente de qualquer pessoa se soubessemos interpretar esses sinais inconscientes.
Estava realmente percebendo que sua terapia obtivera resultado ao não somente perceber os outros, mas que mudara, forma, postura e hoje até consegue sair da muchila em pleno onibus!
Foi quando percebeu que outros humanos escondiam-se em bolsas, alguns em muchilas, outros nos celulares, em jogos, em livros, alguns se mostravam ao mundo enquanto outros procuravam no mundo e outros até pareciam ter encontrado algo.
Assim descobriu que era então por isso que existe psicanalise e outros psico-fisico-estudos que conseguem essas generalizações humanas - basta faze-las devidamente conhecidas.
Lembrou de aspectos sociais de classificação humana, como por exemplo de tribos, e viu que existem os diferentes das tribos dentro das tribos que parecem ter os mesmos comportamentos que outros de tribos diferentes. Por algum motivo acha que Clarisse Lispector e Caio Fernando eram um exemplo perfeito de como pessoas tão diferentes são parecidas por também serem diferentes dos seus iguais e iguais na sua diferença.
Apesar da pouca certeza da qualidade do seu exemplo se sentia muito sociologa ultimamente.
As pessoas introspectivas riem-se dos extrovertidos, quando se abrem, dizendo-os alienados/frivolos/superficiais; os extrovertidos se riem dos introvertidos, quando os percebem, dizendo-os tristes/estranhos/arrogantes.
Descobriu o que já sabia: equilibrio.

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