Mostrando postagens com marcador Artistas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Artistas. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, outubro 20, 2010

De - Para Mauld

.

Paris, 03 de Janeiro de 1925

Ao Sr e Sra Hermet,

É com grande pesar que envio ao senhor e sua família a triste notícia do falecimento do Sr. Marshon.
Essa sexta feira o corpo do Sr Jason Marshon  em seu quarto. Um vizinho ouviu um tiro e viu escorrer sob a porta,  o equivalente a meia garrafa de absinto. Bateu na porta e não ouviu resposta.
Após um momento de preocupação batendo à porta do apartamento chamamos um policial que entrou no lugar.
O Senhor Marshon morreu sentado ao lado de uma escrivaninha. Foi feita uma autópsia e o apartamento foi revirado. Aparentemente ele foi assassinado com um tiro no peito. Não foi encontrada nenhuma arma ao seu alcance, mas a porta estava fechada.
Encontramos escrito e endereçado à Senhora Mauld Hermet o seguinte transcrito:

"Mauld, 


Como vai? Os Hermet estão bem? Te tratam bem?
Responda-me: Está feliz? 
Eu, Mauld, não estou. Algo me empurra para trás. Não sinto os pés no chão. Não sinto que valha a pena sequer continuar tentando voltar para Londres. Não tem graça em lugar nenhum. Já fugi daí por não suportar o que me prendia... aqui não suporto a liberdade. Sinto que vou explodir...
Quero preencher-me o tempo todo e não exista nada para consumir que ocupe o espaço do meu corpo inteiro... "

Sentimos muitíssimo pela perda, o Sr Marshon era um homem muito correto, gentil, educado e que pagava em dias. Nunca imaginamos ter inimigos ou motivos para tanto tormento para que tirasse sua própria vida..
O original ficou com a polícia, como peça de investigação.
Escrevemos ao Sr e sua família em memória à grande estima que o Sr Marshon tinha por todos. Era um homem de poucas palavras mas costumava falar do senhor como um grande amigo ao qual tinha muito carinho e à sua esposa, a qual considerava uma irmã.

Lastimamos dar essa notícia e também esperamos uma breve visita para que os pertences do Sr Marshon voltem para Londres, já que não deixou dívidas.

Michel Poppe
Senhorio

.

quinta-feira, outubro 14, 2010

De Para.

.


Leia atentamente sem expectativas.



Se eu pudesse explicar o que acontece comigo para ser tão incongruente, não te diria. Só se você me perguntar, se pedir explicação. Se tiro meu disfarce pra ti é por que não consigo não ser eu na tua frente, mas meu silêncio, esse ainda controlo. A não ser que você não queira... e eu.. eu não queria o teu, mas o teu silêncio, eu nunca controlei. Detesto quando você se faz de muda. Mais ainda, detesto quando você fala de amor. Nosso silêncio é bom quando quebrado em gemidos. Quando me calas entre as tuas pernas e te arranco o ar frouxo dos pulmões fracos.


Pra se machucar,  me procure.

Adolfo Bianco  

.

sexta-feira, outubro 01, 2010

De - Para - não enviada

Dear Mauld,

I wrote you a song.
.

After all we've been trought
Good memories are not aloud,
Gotta pay this eternal sue
Paying to avoid you around
You once were so smart
You trusting my "not to worry"
You once had some decency
But just never show me
You modified your body
Now your body and your soul
Are like mine
And you're creepiest than me
But at least I can see
This is not how I imagined...
Hard it to handle
The sword and candle
At the same time I give you a hug.

Even if the whole world tell not to
I still persist I still being a pain-in-the..

I can not talk
but
Talk is just talk
and
I'm not talking to you
so
I think you might not get it
'cause
You probably regret knowing me...
so
When you see me hiding
Don't think it's because of you.
See,
I can't talk to you,
But
I can sing.
.

segunda-feira, setembro 27, 2010

De: Para. -

.

3 meses depois do adeus, de muito mais longe do que gostaria, 1925.

Querida Mauld,

Tua última carta me manteve fora de contato pelos últimos meses, mas acredito que tenha sido o maior bem que me fizeste em muitos anos. Aprendi a viver sem te xingar ou adorar. Diminuí meus melindres comigo mesmo. Virar homem é parir-se a si mesmo, quanto maior a distância entre o jovem e o maduro, maior a dor.
Bem que eu queria, mas não sei o que tem te acontecido. Não sei por onde andam teus sonhos, teus pensamentos, tua vida. Sei onde ando, onde vou e o que penso, mas te contar só, não basta. Preciso que me responda, como amiga, verdadeira.
Não sei se tens amor em casa ou fora dela, se te aventuras como antes ou se descobriu alguém que te domasse, não apenas suprisse tua falta de família.
Mauld, querida, nem sei o que pensas de mim ultimamente, sei que achei outro dia uma das mais antigas falas já escritas por nós dois. Juntos, o que é mais estranho. Pouco criamos juntos, e de pouco impacto certamente, mas Mauld, a tristeza na França é tremenda, tudo fica mais emotivo num país onde se vende amor e se vive solidão.
Esse trechinho que te envio era uma conversa boba entre dois amantes, num dia em que se encontravam por acaso após uma noite confusa. Mais um romance que tentamos escrever, parecendo uma comédia que não acabou pela falta de um fim tolerante aos que detestam amores natimortos.
Se bem me lembro é Fevereiro, Londres, Sutter e Cindy:


Cindy: Estou indo dar uma volta no mercado comprar um presente pra um primo meu, depois vou à Igreja... depois acho que vou passar pelo tio Ben, tento a dias conversar com Louise... tu vais por lá mais tarde?
Suter.: Hm, acho que não. Tenho aula até 9:30. Talvez, não sei. Deveria ir? 
Cindy: Eu gostaria.
Suter: Atendido.
Pausa 
Suter: Estive com a Emma ontem. Dormi na casa dela.  Cheguei há pouco. - Pausa, busca reação -Te vi duas vezes.
Cindy: Onde? - Sem reação
Suter: Quando estava dormindo, meio que dormindo, mas não dormindo. Ela levantou pra fechar a porta, pensei que era você. Me assustei porque quase disse teu nome. - Insolente
Cindy: Não pareço com ela. - Ciúmes.
Sutter: Não é parecer, foi a sensação.
Cindy: Isso é ruim, sou uma sensação de ex-problemática?
Sutter: Oh! Deus! Você não entende!
Cindy: Estou tentando!
Sutter: Eu te vi porque eu tava meio dormindo e tinha uma pessoa no quarto e eu pensei que tava em casa e provavelmente vc estava no meu inconsciente.
(Lembra Mauld que soubemos do Dr. Freud no ano que escrevemos essa peça?)
Cindy: Oh.. oh.. 
Sutter: Daí quando ela andou pelo quarto pensei que era você. Vi o cabelo amarrado e quase disse teu nome, entendeu? 
Cindy: Entendi...
Sutter: Tá bem, você estraga qualquer romantismo.
Cindy: Pelo menos agora estou achando não-ruim.

Mauld, quero saber de você.
Não tem sentido nenhum viver sozinho, se sei de cor o que já vivo. A melhor maneira é viver por dois. Com você posso ser dois. Me aceite de volta, sem rancores, sem choramingos meus.
Prometo que de poeta e louco pouco se verão.

Torço para que estejas bem, com amor, com saúde e com objetivos. Mas no meu coração, meu desejo, era que tua solidão se encerrasse com o fim da minha.

Um dia podemos terminar de contar o resto dessa história um para o outro?
Termine-mo-la juntos.

De seu triste, porém vivo,

J. Marshon

ps: Agora eu sei. Desde o dia que voltei uma milha e meia na chuva para te emprestar a mesma capa com que acompanhei Agnes até em casa, você já sabia que assinara com sangue no teu livro de almas. Aqui me tens de regresso, muito mais de uma milha e meia de distancia, mas tentando te alcançar antes do bonde para te emprestar uma capa que sequer pediste.

.

Esperar sentado vendo outras vidas passarem
Esperar angustiado a volta da atividade
Esperar que tudo seja reiniciado
Esperar que o novo e resolvido venha do que é morto e mal acabado
Isso é le.ni.ên.ci:a com o des(a)tino.
.

terça-feira, junho 01, 2010

Mauld em resposta.

.

29 de Setembro, 1925

Jason,

Querido, não sou boa nas palavras como você, então vou tentar ser clara e direta: não me escreva mais. Pare de tentar achar solução através de um resposta minha, eu não tenho como te ajudar. Estamos nos mudando, Jason, não morarei mais em Londres em uma semana ou duas.
Estou adiando te escrever a tempos e Hermet bem que insiste, mas fiquei com medo de não saber o que dizer.
Veja, os pais de Hermet estão muito doentes e Charise não consegue cuidar deles sozinha. Nunca te falei dela não é? Minha cunhada, muito boa pessoa, infelizmente já é casada, acho que você iria gostar dela. De qualquer modo, os negócios não vão bem e Peter, o marido de Charise, também é ferreiro, então vamos para Stratford, ajudá-los. Assim firacá Peter e James na Ferraria e eu e Charise cuidando dos Hermet idosos. Eu não tenho o endereço ainda, mas penso que mando um telegrama para te avisar assim que nos instalarmos na cidade.
Por favor, não escreva para mim dessa triste forma novamente, você não sabe o quanto me dói ler suas dores e não ter como ajuda-lo.
Penso que muitas vezes você faz essas coisas só para ter o que falar que fez, preocupe-se com algo útil e construtivo vez ou outra, eu não posso estar do seu lado puxando suas orelhas toda vez que fizer algo errado e nem quero saber o quanto você está estragando sua vida e me contando a punho próprio em letra caligráfica
Não, não tem nada a ver com Hermet, ele, pelo contrário, parece te entender e sinto que fica penalizado quando sabe de suas desventuras, eu por outro lado, mantenho minha calma e procuro achar uma solução para os teus problemas. Infelizmente, Jason, eu tenho meus próprios problemas para lidar. Suas mulheres, suas noites ébrias, suas paixões podem ter sido parte da minha coleção de cuidados mas hoje tenho que pensar em mim e na minha família. Está na hora de você também buscar um destino construtivo para você.
Me perdoe, meu querido, se sou dura com as palavras, mas enquanto estava perto de você ainda podia fazer algo, agora, ou você faz algo por sí mesmo ou eu prefiro não saber.
Volte para Londres, volte para a Inglaterra como prometeu. Paris não te faz bem, a França não é lugar para pessoas como você. Quando voltar, estaremos de braços abertos para te receber em nossa casa.

Um grande abraço com muito carinho,

Mauld Beatrice Hermet

ps: Hermet está bravo comigo por causa dessa carta, mas espero que você a veja como um ato de amor não de abandono.
ps2: Em Stratford terei que chamar Hermet de James, acho que vou demorar a me acostumar com isso.

.

quinta-feira, abril 15, 2010

De Marshon Para Mauld - XII

.

Cadeira e Mesa novas, Paris, 30 de Agosto de 1925

Querida Mauld

A janela está aberta, mas e daí? Não passa um vento. Sinto um calor abafado e ruim, mas vem de dentro. Faltei comigo mesmo, aparentemente luto contra mim.
Te falei dela, não falei? Amor novo e sem responsabilidade alguma. Uma jóia rara pelas qualidades invisíveis. Oh, Mauld Mauld Mauld... falhei novamente, como homem, como ator da minha vida só atuo, mas penso que deveria dirigi-la. Falhei em algo que não sei o que foi.
Será que sou um maricas dominador?
Ela me deixou Mauld, e já me apareceu com outro. Pintor e poeta, assim como eu, mas não sei se ele a amará metade do que eu amei, já, mesmo sem dever.
Amor na nossa idade é sacrifício.
Aquele olhar tão denso e frio não toca meu mundo a dias e ainda assim, me lembro do tremor que senti quando apertei seu corpo contra o meu naquela calçada escura entre os bares da madrugada.
Sentir seus lábios secos e miúdos é como respirar. Sem querer os sinto. Sem querer me lembro. Sem querer suspiro. Sem querer a vejo e evito, atravesso a rua, viro o rosto, finjo que não ví, mas ela ainda assim - veja que ousada, mandou-me um abraço pelo Pierre, dizendo lembrar-se sempre de mim ao passar na tabacaria.
Puta. Eu avisei, se estivesses aqui, terias me avisado.
Pronto. Vou procurar uma que me saia mais barato, pois o coração que ela matou não tem mais onde comprar.
Vou procurar um emprego, quero voltar para Londres. Paris me fez tão mal quanto a casa dos meus pais. Vou voltar para você e seu ferreiro dentuço. Serei mais feliz servo da Rainha que amante de uma puta.
Sim, misturei bebidas o suficiente para escrever essas coisas e ainda ter coragem de enviar, mas perceba, querida, quando um homem como eu ama, sofre. Dedico-me totalmente a uma mulher de cada vez, quando a mulher acha um homem como eu, deveria agradecer aos céus, mas ao invés disso, ela me acha um bobo que ainda quis, de alguma maneira ver nela a linda flor que ela não vê. Percebe? Depois do que escrevi eu também me largaria.
Agora, querida, por favor, conte-me de você.

J.Marshon

.

perdemos tempo pensando.

.

quinta-feira, março 04, 2010

De Marshon Para Mauld X

.

Quarto escuro, 10 de Agosto 1925

Mauld,

Que seria de mim, se não tivese minha Mauld para conversar?
Oh, sinta isso: Que radiante novo dia! Dia de sol em Paris, creio que até Londres, hoje se fingiu ensolarada para não estragar tudo.
Nem parece que sinto sua falta ou que seja importante saber se estás bem. Nem parece, pois sorrio, inflexivelmente sobre o restos que me sustentam.
Tende em mente que mudanças são desafios, que os fracos fogem, que estou fugindo novamente. Mauld, cansei minha mente com amigos, não consigo produzir.
Deito-me no peitoril, escondido, para ver se ela passa pela rua. No alto dessa janela, desse quarto virulento, os humores da capital concentrando-me em meu nariz, com sono, no frio, no calor, cansado, como quer que seja: vigio. Como que guardando a passagem enquanto passa.
Ridículo que sou, Mauld. Ridículo, pois na minha idade não se alimentam cobras, dívidas ou amores. Creio que fiquei emolecido com a presença do teu ferreiro.
Outro dia mesmo me peguei pensando no perfume dos cabelos da Tiffane, e me dei conta que ela apresenta uma sutileza natural incomum para uma Francesa.
Vou acalentar ainda essa ideia até que se desmanche pelos meu braços.

Mauld, gostaria de trocar de lugar contigo, so para saber a sensação.


J. Marshon
ps: sinto-me ridículo.

.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

De Marshon Para Mauld - IX

.

Cama limpa em Paris, 02 de Agosto de 1925

Oh, Mauld

Estou doente. Comecei dramático, não te preocupes, estarei bem em breve, é só uma gastrite.
Soube que em setembro haverá um encontro espiritual, desses que tanto gostas. Avise o Hermert se ele também gostar.
Oh, querida, sinto saudades dos cuidados que me tinhas.
Acha que nunca percebi que mesmo tentando fazer tudo igual para todos, tua atenção sempre foi grande comigo? Pequena malabarista de corda, nunca entendi tua atenção, agora me dói a barriga e a falta da minha melhor amiga, curiosamente pelo resultado da bebida e não pelo momento de bebe-la!
Me criaste muito mal.
Mas o motivo da escrita é outro.
Ando pensando muito ma'M, demais para mim. Cada passo que dou penso se deveria tê-lo dado. Ando duvidando da minha arte, duvidando da minha capacidade de pintar e de escrever. Ando duvidando até dos meus sonhos.
O Mal do Século me pegou Mauld? Estou histérico como uma mulher? Talvez por causa dessa gastrite, eu não possa beber e tudo fique mais difícil. Mas acho que, de algum modo, a gastrite veio por causa disso tudo. Como se eu estivesse rejeitando até mesmo minha última felicidade.
Mauld, Mauld, Mauld. Pedro foi embora. Ivan está em Lion e eu estou na companhia da tristeza absoluta.
Escrevo sem chegar ao ponto onde quero chegar, mas porque está tudo tão perdido dentro de mim que não acredito que um dia terei novamente forças para me levantar.
Não te preocupes, fica bem, te informarei da data do encontro.
As vezes acho Mauld, que preciso de uma mulher apenas, não de tantas, sempre achei que para isso existiam as mães e as Maulds.
Mande-me coragem, por favor. Acho que sei o que está acontecendo.

J. Marshon

ps: não me critiques pela carta maricas.
ps²: acho que estou apaixonado se isso explica algo para você.

.

domingo, dezembro 27, 2009

De Marshon Para Mauld - VII

.

De uma mesinha num bistrô, 14 de Julho de 1925

Minha Mauld,

A gente não se via a muito tempo, mas agora que te vi senti algo que preciso te dizer:
Eu fui apaixonado por ti e estou vendo que vou ser pra sempre. Te amo muito, mas muito mesmo e acho que é do tipo de sentimento que parece durar toda a vida.
Não se preocupe, querida, nem se preocupe comigo ou com qualquer ciúme que isso possa causar contra nós, não é sobre isso não.
Não é de paixão de vontade de possuir e te agarrar, não, não! Não te quero como companhia de construção das etapas da minha vida, nem de sexo, nem de carinhos. O que me cativa é tua presença inconstante e agradavel e divertida e um pouco mágica, essa combinação é que me faz sentir assim por tí.
É de gostar de ti como tu és. Gostar de estar perto, gostar da companhia.
É um amor que não passa e que não precisa de continuidade física.
É o que me faz teu amigo independente de retorno, por que é pela mera existência.
É amor que perde a força se chamado de amizade.
Te amo Mauld, talvez como poucas pessoas te amarão, amaram ou amam. Como um amor de familia, só que mais feliz e intenso.
Qualdo chegar em Londres novamente essa carta será tua recepção.
Obrigado pela visita, não sabes o bem que me fizeste.

Seu eterno amigo

J. Marshon.

ps: Agradeça a Hermet, por mim, mostre a ele minhas palavras: "Cuide bem dela como ela cuida de mim e obrigado pela viagem, darei uma retribuição a isso. Ame-a como ela a tí.".

.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

De Marshon Para Mauld - V

.

Quarto alagado em Paris, 20 de Março de 1925

Mauld, sua analfabeta,

Pensei ter dito para Christine ler as cartas para ti, mas pediste a Vermond! Conheço a letra e a preguica desse canalha. Tua carta de três linhas só pode ter sido escrita por ele. - Canalha! Fanfarrão! Sinto sua falta também, companheiro - Ao ler agora, certamente está imitando minha voz. Odeio as imitações desse atorzinho de merda.
O que está feito está feito. Vamos ao que interessa:
Todas as pinturas foram vendidas, Mauld! Todas! Mas não consegui guardar um tostão sequer. Não fiquei rico, mas fiquei bêbado como nunca com as putas mais lindas que já ví!
Acordei com dores de cabeça e os pés molhados. Uma chuva esquisita caiu durante toda a noite e alagou essa espelunca pestilenta. Certamente existe desde os tempos da Peste Negra e os percevejos são a milésima geração dos dizimadores de viajantes que passaram por aqui. Deveria ter procurado um lugar melhor como disse na outra carta, mas não consegui.
Agora, sem dinheiro suficiente para voltar, resolvi virar poeta. Gasta-se menos nos materiais e produz-se mais quando se bebe, diferente dos quadros. Paga-se menos, certamente, mas posso vender em grandes quantidades.
Aqui vai um versinho que fiz ainda hoje:

Tira tua boca da minha boca
E daixa-me beijar teus grandes lábios
Gosto de inverter os teus conceitos
Te deixando de costas e de quatro

Sei que não é exatemente teu estilo, mas fará sucesso.
Vou procurar uma água para beber, estou com muita dor de cabeça.
Tentes pedir a Christine para escrever tua resposta, Vermond resumirá tudo novamente em duas linhas, em palavrões.

De seu amigo poeta,
J Marshon

.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

De Marshon Para Mauld - III

.

Dum quarto alugado, 12 de Março de 1925

Minha insubstituível Mauld,

Mal cheguei e já tenho notícias. Consegui vender quatro das pinturas que trouxe e aluguei um pequeno quarto em Sevran. Foi rápido, pensei que teria que pedir abrigo no Ivan. O lugar é escuro, úmido e creio estar infestado de percevejos, mas amanhã procuro algo melhor.
Vou tomar uma dose enquanto penso em algo interessante; para não mandar só um bilhete.
Pensei em algo que acho que nunca te disse sobre sexo:
Acho uma das melhores coisas da vida. E isso é tão forte que as vezes não intendo não gostarem. É fisico. É como comer. Comer é físico e te dá satisfação física completa quando você come uma comida realmente deliciosa. É uma satisfacão que todo mundo admite: "comer é das melhores coisas da vida". É como sentir um perfume delicioso, hipnotizante, desses que você se entrega para farejar como um animal, encantado. É físico. Seja um perfume exótico ou um cheiro de comida; um único sentido encontra-se totalmente em estado de alerta e isso causa prazer imenso ao espalhar-se pelo sistema corpóreo. Como uma música que vai além dos ouvidos e entra pela corpo, que te movimenta como por cordas místicas invisíveis. Um som que te movimenta por ele mesmo, que a mente desliga todos os outros sentidos porque não são mais que ruidos para o momento em que precisa se focar somente nesse som. É físico. É delicioso. É quase ideológico! Uma ideologia do cérebro: Siga o som. Você entra em transe. É como ver o belo e viajar em sua harmonia ou na deliciosa falta dela. Quando próximos ao belo absoluto apenas a visão se ativa e se foca no que a encanta assumindo o controle do corpo. As imagens ficam nítidas, seja as que entram pelos olhos ou as que se formam no mundo de construções visuais internas. Tudo é silêncio e você é apenas visão. É físico. É o que procuro causar. É como um urro, um grito de dor ou choro. Como um gemido profundo. É expulsão de força. É aliviante. É físico como todos os outros focos do corpo para criar prazer. É assim tão físico o prazer do sexo. Assim como a comida deliciosa tem seu contexto de feitura e ato alimentício, o sexo tem seu contexto no 'com quem', mas não por isso o foco principal deixa de ser físico e, por isso, pessoal e intransferível.
Como no perfume, no som, no sabor, no grito, existe o momento do clímax, de total foco e desconexão. Assim no sexo o clímax deve ser em várias doses, nas várias etapas do desenvolvimento do ato. Nos toques. O sexo é o clímax do tato. O corpo inteiro vira tato em várias ondas de sensações únicas e os corpos, não pensantes, trocando informações puramente táteis que se harmonizam em movimentos, naturalmente, simbioticamente sem esforço, porque não poderia ser diferente. Como o corpo e o perfume, o corpo e a música, o corpo e o sabor, o corpo e o grito. Quando ultrapassa o limite do órgão sensorial e a percepção é corpo, esse é o clímax. No sexo somos o tato-vivo. Uma sensação-viva. Sexo é no corpo todo. Sexo é físico e maravilhoso. É conjunto e é solo. Paladar, olfato, audição,visão, voz e Tato.
Creio que agora alonguei demais a carta. Mande notícias da trupe. Espero voltar rico de Paris.

Deverias estar aqui para conhecermos o Moulin Rouge,
Seu melhor amigo pintor

J. Marshon

PS: Não fiz aquele pedido que me pediu porque não atirei tua moeda na fonte mágica. Precisei comprar cigarros e não trouxe trocados comigo. Se funcionar para ti, atiro moeda minha quando trocar o dinheiro.

.