Cadeira e Mesa novas, Paris, 30 de Agosto de 1925
Querida Mauld
A janela está aberta, mas e daí? Não passa um vento. Sinto um calor abafado e ruim, mas vem de dentro. Faltei comigo mesmo, aparentemente luto contra mim.
Te falei dela, não falei? Amor novo e sem responsabilidade alguma. Uma jóia rara pelas qualidades invisíveis. Oh, Mauld Mauld Mauld... falhei novamente, como homem, como ator da minha vida só atuo, mas penso que deveria dirigi-la. Falhei em algo que não sei o que foi.
Será que sou um maricas dominador?
Ela me deixou Mauld, e já me apareceu com outro. Pintor e poeta, assim como eu, mas não sei se ele a amará metade do que eu amei, já, mesmo sem dever.
Amor na nossa idade é sacrifício.
Aquele olhar tão denso e frio não toca meu mundo a dias e ainda assim, me lembro do tremor que senti quando apertei seu corpo contra o meu naquela calçada escura entre os bares da madrugada.
Sentir seus lábios secos e miúdos é como respirar. Sem querer os sinto. Sem querer me lembro. Sem querer suspiro. Sem querer a vejo e evito, atravesso a rua, viro o rosto, finjo que não ví, mas ela ainda assim - veja que ousada, mandou-me um abraço pelo Pierre, dizendo lembrar-se sempre de mim ao passar na tabacaria.
Puta. Eu avisei, se estivesses aqui, terias me avisado.
Pronto. Vou procurar uma que me saia mais barato, pois o coração que ela matou não tem mais onde comprar.
Vou procurar um emprego, quero voltar para Londres. Paris me fez tão mal quanto a casa dos meus pais. Vou voltar para você e seu ferreiro dentuço. Serei mais feliz servo da Rainha que amante de uma puta.
Sim, misturei bebidas o suficiente para escrever essas coisas e ainda ter coragem de enviar, mas perceba, querida, quando um homem como eu ama, sofre. Dedico-me totalmente a uma mulher de cada vez, quando a mulher acha um homem como eu, deveria agradecer aos céus, mas ao invés disso, ela me acha um bobo que ainda quis, de alguma maneira ver nela a linda flor que ela não vê. Percebe? Depois do que escrevi eu também me largaria.
Agora, querida, por favor, conte-me de você.
J.Marshon
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perdemos tempo pensando.
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3 comentários:
Meu amor, a vida é mesmo louca assim...
Traga-me lembrancinhas de Paris. Outro brinco, aquele que Lilo me deu eu perdi em uma festa, bêbada.
Como é que eu viro tua seguidora hein?
Ai, essas coisas modernas virtuais....me matam!!!
Como é que faço pra virar tua seguidora?
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