segunda-feira, setembro 27, 2010

De: Para. -

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3 meses depois do adeus, de muito mais longe do que gostaria, 1925.

Querida Mauld,

Tua última carta me manteve fora de contato pelos últimos meses, mas acredito que tenha sido o maior bem que me fizeste em muitos anos. Aprendi a viver sem te xingar ou adorar. Diminuí meus melindres comigo mesmo. Virar homem é parir-se a si mesmo, quanto maior a distância entre o jovem e o maduro, maior a dor.
Bem que eu queria, mas não sei o que tem te acontecido. Não sei por onde andam teus sonhos, teus pensamentos, tua vida. Sei onde ando, onde vou e o que penso, mas te contar só, não basta. Preciso que me responda, como amiga, verdadeira.
Não sei se tens amor em casa ou fora dela, se te aventuras como antes ou se descobriu alguém que te domasse, não apenas suprisse tua falta de família.
Mauld, querida, nem sei o que pensas de mim ultimamente, sei que achei outro dia uma das mais antigas falas já escritas por nós dois. Juntos, o que é mais estranho. Pouco criamos juntos, e de pouco impacto certamente, mas Mauld, a tristeza na França é tremenda, tudo fica mais emotivo num país onde se vende amor e se vive solidão.
Esse trechinho que te envio era uma conversa boba entre dois amantes, num dia em que se encontravam por acaso após uma noite confusa. Mais um romance que tentamos escrever, parecendo uma comédia que não acabou pela falta de um fim tolerante aos que detestam amores natimortos.
Se bem me lembro é Fevereiro, Londres, Sutter e Cindy:


Cindy: Estou indo dar uma volta no mercado comprar um presente pra um primo meu, depois vou à Igreja... depois acho que vou passar pelo tio Ben, tento a dias conversar com Louise... tu vais por lá mais tarde?
Suter.: Hm, acho que não. Tenho aula até 9:30. Talvez, não sei. Deveria ir? 
Cindy: Eu gostaria.
Suter: Atendido.
Pausa 
Suter: Estive com a Emma ontem. Dormi na casa dela.  Cheguei há pouco. - Pausa, busca reação -Te vi duas vezes.
Cindy: Onde? - Sem reação
Suter: Quando estava dormindo, meio que dormindo, mas não dormindo. Ela levantou pra fechar a porta, pensei que era você. Me assustei porque quase disse teu nome. - Insolente
Cindy: Não pareço com ela. - Ciúmes.
Sutter: Não é parecer, foi a sensação.
Cindy: Isso é ruim, sou uma sensação de ex-problemática?
Sutter: Oh! Deus! Você não entende!
Cindy: Estou tentando!
Sutter: Eu te vi porque eu tava meio dormindo e tinha uma pessoa no quarto e eu pensei que tava em casa e provavelmente vc estava no meu inconsciente.
(Lembra Mauld que soubemos do Dr. Freud no ano que escrevemos essa peça?)
Cindy: Oh.. oh.. 
Sutter: Daí quando ela andou pelo quarto pensei que era você. Vi o cabelo amarrado e quase disse teu nome, entendeu? 
Cindy: Entendi...
Sutter: Tá bem, você estraga qualquer romantismo.
Cindy: Pelo menos agora estou achando não-ruim.

Mauld, quero saber de você.
Não tem sentido nenhum viver sozinho, se sei de cor o que já vivo. A melhor maneira é viver por dois. Com você posso ser dois. Me aceite de volta, sem rancores, sem choramingos meus.
Prometo que de poeta e louco pouco se verão.

Torço para que estejas bem, com amor, com saúde e com objetivos. Mas no meu coração, meu desejo, era que tua solidão se encerrasse com o fim da minha.

Um dia podemos terminar de contar o resto dessa história um para o outro?
Termine-mo-la juntos.

De seu triste, porém vivo,

J. Marshon

ps: Agora eu sei. Desde o dia que voltei uma milha e meia na chuva para te emprestar a mesma capa com que acompanhei Agnes até em casa, você já sabia que assinara com sangue no teu livro de almas. Aqui me tens de regresso, muito mais de uma milha e meia de distancia, mas tentando te alcançar antes do bonde para te emprestar uma capa que sequer pediste.

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Esperar sentado vendo outras vidas passarem
Esperar angustiado a volta da atividade
Esperar que tudo seja reiniciado
Esperar que o novo e resolvido venha do que é morto e mal acabado
Isso é le.ni.ên.ci:a com o des(a)tino.
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