sexta-feira, dezembro 11, 2009

De Erika Para Geovanna - IV

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Augsburg, 05 de Março 1780

Geovanna,

Os dias já nascem quentes e você ainda não veio. Começo a acreditar que terei de ir buscá-la eu mesma. Demorei até mesmo a responder sua carta, pois acreditei que chegaria a minha casa antes da carta chegar à tua. Mas claro que foi uma bobagem, pois ainda não estamos em tempo de tomar frescas no jardim.
Fui ao concerto do mestre Mozart! Que espetáculo sonoro! Chorei e rí e apertei-lhe a mão ao final. Creio que ele tenha me olhado de modo que tu irias querer arrebentar-lhe os dedos. Não te preocupes, papai foi comigo, claro.
Sobre tua carta, retiro o que disse sobre meu nascimento e acredito que se teu amor depende de mim eu sou então o meu maior presente.
Dos Berggs, lembro-me vagamente de Hutty, acho que não devias trocar tapas e pontapés com esses brutos, apesar de saber o quão forte são teus golpes. Teu pai sempre reclama que não te portas como uma dama e receio que isso crie desconfianças sobre nossa relação.
Mamãe nada me confirma sobre tua chegada, mas disse que é certamente em breve. Vamos! Adiante-se, use seus poderes como me prometeu. Aquece o Sol e acelere as árvores! Trás de volta os passarinhos do calor, não aguento de ansiedade.
Apostaria meus cavalos como ainda não vieste porque tens medo de vir só. Frouxa! Não tem medo de brigar com moleques mas tem medo de uma estradinha molhada! Já te digo então quem deve ser chamada de Sua Alteza... não me chames assim, sabes muito bem que não gosto dessas zombarias.
Anna, já sei! Diz ao tio que quero meu gato persa antes que fique velho e morra! Ou antes que eu case.
Sei que para tí isso não te oprime o coração. Cacilia está com vinte anos e titio sequer toca no assunto. És criada com muita liberdade, uma raposa. Em minha casa não sei o quão modernos são os planos de papai, mas creio que ele pretenda crescer as criações e para isso, bem, você sabe.
Das possibilidades que conheço a menos pior seria o filho do gordo inglês. Ele voltou de Senegal ano passado, quando perderam para a França e já está de partida para o Sul da África! Seria bastante cômodo um marido que nunca está. Só temo ter que me mudar para a Grã-Bretanha. Isso eu não quero, mas creio que mamãe também não permitiria.
Sei que não concordas que eu me deixe casar, mas em algum momento isso terá de acontecer ou haverá desgraça para minha mãe. Petra e Austine são tão pequeninas ainda... sim, e estão bem. O tutor de Francês foi obrigado a dar uns piparotes em Austine. Austine, a astuta. Ela cantava uma canção francesa cheia de ideias revolucionárias que, aposto, foi Anja que ensinou. Ela fala francês e não diz para ninguém.
Não dei-lhe o abraço que mandou, cobras não tem braços e aquela austríaca é uma cobrinha sonsa e cheia de veneno. Só você mesmo para gostar tanto dela. Acho que essa salamandra desconfia de nós duas, mas como gosta de ti nada diz.
Por sinal, a velha bruxa veio me felicitar por não ter nascido 5 anos antes, ou teria de estar amarrada em um corset francês sem fôlego sequer para suspirar.
Falando nisso, traga teus vestidos de festa, quero vê-los. Ficas tão linda de vestidos, deverias usá-los mais! Sei que também preferes quando os visto. Te esperarei com um novíssimo, azul-marinho, de tecido francês, vais gostar, leve, moderno e segura-se armado sem esqueleto.
Estou aprendendo novas musicas no piano, mostrar-te-ei quando estiveres aqui.
Mande-me resposta com a data certa em que virá! Não aguento essa sua lentidão!
Principalmente porque sei que é medo de vir só e isso é tudo que não se espera de você. Seja a Valkíria destemida, que tanto interpretas e pare de bancar a judia pestilenta.
Meu coração de tanto desejo borbulha e tanto borbulha que confunde a angústia da tua ausência com raiva fervorosa.

Salva-me desse sofrimento, raposinha e venha logo.

sua Erika

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Um comentário:

tabernali disse...

Fascinante e emocionante!