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Augsburg, 27 de Fevereiro 1780
Doce Pêssego,
Não pude me conter e alegria ao ler tua carta. As palavras me chegaram do papel aos ouvidos narradas por tí, como se estivesse ao meu lado.
Fico feliz de saber que está bem e que tua queda da macieira, apesar de dolorida, diverte os convidados nos jantares. Peralta! Exibida também. Enche-me de ciúmes saber que os Bergg competem pela tua mão e te tem toda semana a diverti-los com tuas histórias. Da próxima vez diga que são minhas histórias, pois era comigo que você estava quando aconteceram.
Ainda bem que teu pai não tem pressa em entregar tua mão.
Como queria ter nascido meu próprio irmão e não eu. Pedir-te-ia em casamento e todas as propriedades de Munique passariam à tua família se me fossem pedidas. Ficaríamos somente com a casa do lago e a austríaca que tanto gostas.
Falando nela, pouco antes de cerrar meus aposentos, pedi à Anja, tarefa impossível a essas horas e frio. Pobre mulher, foi buscar-me refresco de nem lembro o quê. Algo tropical, acredita? Dá-me assim tempo de escrever-te sem que me veja enrubescer junto aos movimentos da pena.
Aguardo ansiosa o final da estação que nos distancia... Quero voltar ao lago na primavera para ficarmos juntas novamente, aproveitando os dias de sol e pescando. Sim, aprendi a pescar com o pequeno Hans nesse inverno
Querida, sabes que mestre Mozart virá aqui no início da primavera? Venha para Augsburg, por favor! Se tiverdes autorização conseguirei mil cavalos para te buscar! Ou irei eu mesma! Ou mando a austríca trazer-te nas costas! Por favor, estejas aqui para ouvi-lo comigo, soube que são mágicos seus concertos e papai já autorizou-me a ir.
Estive em Munique a menos de uma semana, passei por tua rua, ví tua casa e luz na tua janela, por que não me vistes se não dormias? Senti-me só e um pouco louca, querendo que lesse meus pensamentos e saísse com a cabeça pela janela em plena noite de inverno. Não te rias de mim, sei que está rindo agora.
Se pudesse teria gritado, mas estava a caminho de casa após visita com o tedioso sócio de papai, aquele sr. gordo e inglês.
Geovanna, vamos, me explique se tiverdes suficiente imaginação, por que papai gosta tanto de estrangeiros? Anja, o gordo, Verducci. Creio que
Bem, na carta me disseste algo que me deixou excitada, antes que Anja volte, preciso confessar: também sinto falta de teu corpo nessas noites frias. Imagino que, se na primavera me foi tão reconfortante teu calor, não iria afastar-me por meio segundo de tí e de teus beijos e de teus braços. Sou, portanto tão louca quanto você por assumir por escrito, por favor, lembre-se de atiçar o fogo com esta carta e não te preocupes, não penso em guardar outra lembrança que não o teu cheiro e a memória do teu corpo na ponta dos meus dedos.
Dá-me uma dor imensa pensar que ainda falta tanto para te ver. Pedirei a mamãe para fazer compras em Munique, mas dificilmente iremos com esse tempo.
O inverno era minha estação favorita quando criança. Meus pais ficam em casa a maior parte do tempo e sempre tinha a companhia de meus irmãos. Hoje sinto o inverno como uma maldição que me prende longe de tí, rodeada de crianças barulhentas que não me deixam quieta enquanto imagino teu rosto.
Ando certamente abobalhada. Mamãe me perguntou se estava apaixonada e respondi que não, perguntou então em quê eu pensava tanto, se não em algum rapaz. Não gosto de mentir para ela, disse que em tí, mas claro, como minha prima-irmã e amiga. Creio que ela morreria em desgraça e desgosto se soubesse que te amo. Mandaria-me para a França, ou Espanha!
Oh, querida, corra o tempo para mim, escreva-me de volta. Conte-me mais sobre teus pensamentos.
Manda-me teus beijos pelas palavras pois sei que queres tanto quanto eu.
Com amor e enorme falta,
sua Ericka.
PS: Receio que papai esteja a procura de um noivo para mim.
PS²:Considere casar-se com Hans, ele será um bom marido. Responda-me sobre isso, temo te perder para sempre.
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