Andava me afogando no que eu não conseguia dizer. Angústia sufocante entalada entre o peito e a garganta. Engoli com ajuda. Mais uma dose de que? Está voltando, agora será com força máxima. É sadismo vomitar o que te entala no prato de alimento alheio. Espero a festa acabar. Por enquanto, olho pra fora.
E é lá fora que eu queria estar.
Vejo o vento arrastando folhas secas. Vejo as sombras. Sinto o cheiro do meu lugar.
Aqui é morno e acolchoado. Os pratos com sobras me enojam. Os copos alinhados me lembram paredes transparentes.
Olho pra fora. Meus pés estão frios, mesmo nessas meias grossas. Incômodo. Quanto incômodo.
Quanta vontade de correr. Correr era o que eu fazia melhor, será que ainda consigo correr tanto a ponto de escapar? Por isso calçaram-me botas pesadas. Por isso vestiram-me com roupas que me apertam. Por isso impedem-me de chegar tão perto das portas e janelas, que sempre busco nas frestas uma lufada de ar de fora.
Essa festa ao meu redor é ainda pior do que estar apenas preso.
Quero sair. Não quero esperar.
Quero e não faço, por que não sei calcular a delicadeza para partir um coração sem destruir todo o resto.
Adolfo Bianco
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário