segunda-feira, outubro 18, 2010

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Aquela moça passou com um frasco de perfume.
Trouxe ares de esperança. Senti aquele cheiro amadeirado e lembrou-me de minha terra natal. Onde nasci e morri. Aquele era o cheiro que entranhava no nariz de todos os que passavam por aquelas terras. Para sempre.
A marca que fincava na memória uma sensação de divertimento infantil, inocente, aquele cheiro cheirava a inocência. Acredito que emano esse cheiro quando me perco num olhar curioso e macio. Suavemente invasivo. Suavemente sedutor.
Cheiro de descobrimento. Era o cheiro das descobertas juvenis. O cheiro das folhas onde rolei nos namoros com jeito de adolescente, mesmo muito depois do que se pode chamar de homem-feito. Era um cheiro seco e doce, com um toque cítrico quando se dissipava quase totalmente. Um cheiro que lembrava terra seca coberta de folhas quebradiças depois de uma longa semana de chuva e três dias de vento forte.
Aquele era o cheiro que tinha a liberdade. Por isso prendia firmemente na memória de quem o sentiu.
Tive vontade de gotejar no peito e nos pulsos. É o cheiro de espaço. De movimento. De auto-suficiência dividida. Cheiro não da presa, mas de quem busca. Era o cheiro que eu usava para me disfarçar no mato. Para me disfarçar nas ruas. Para fazer tocaia e para assinar meu caminho.
É o cheiro da vontade selvagem das árvores que rompem o chão - céu acima. Era um cheiro disso tudo.
Era um cheiro disso tudo à noite.

Adolfo Bianco

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