terça-feira, outubro 15, 2019

L.Pavla

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Anoiteceu. A cama recebe com carinho quem dela precisa.
Ela diz para sí mesma:
- Vamos deitar... Fechar os olhos, tentar dormir um pouco. Dia longo... Deixar o corpo sentir todo o colchão debaixo dele e fica só assim, só sentindo... Mas faz muito barulho.
Barulho dentro da cabeça. Tenta anular seus pensamentos lembrando de uma música qualquer. O pensamento consciente dá uma mínima pausa. Dá-se um silêncio de milissegundos e começa o tormento do que parece um disco arranhado mental. Ela tenta ficar em silêncio absoluto.
- Nascí em 1982, me lembro dos discos arranhados nas festas de aniversário das minhas irmãs. O disco da Mara sempre enganchava mais que o da Xuxa. Diaxos de memória seletiva mais imbecil! Bela hora de lembrar de músicas ruins para só saber repetir o refrão ininterruptamente. Pensa que não sabe porque não acontece isso pelo menos com uma música que goste. Pensou. Erro.
A voz tagarela volta somada ao som repetitivo e grudento nos seus ouvidos, sem ter como desliga-los, nem som nem voz.
- Ouve só o vento da rua...
Ela respira fundo, grita mentalmente "INSPIRA EXPIRA INSPIRA EXPIRA..." até que se esqueça de repetir o comando e volte o silêncio. Se mexe um pouco. Seu braço não sente nada. Está dormente. Ela sente sono e inquietação.
Lembra-se de uma cena familiar aos 14 anos, com seu primo de 16. "Hoje teria sido melhor aproveitado" pensa. Sente-se exitada e aproveita a oportunidade para que, ao ser suprida a necessidade física, o sono a leve sem maiores demoras.
Começa mas para. Lembra-se que foi na casa da avó, que morrera a dois anos de câncer. Pobre mulher.

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